Para reduzir impacto do plástico no meio ambiente, empresas reinventam embalagens de papelão descartável.
Leves, duráveis, flexíveis, baratos e altamente protetores do produto, os plásticos quase nunca param de circular e são até classificados como vilões ambientais. Mas com leis mais rígidas e pressão do consumidor, o setor está investindo em inovação para encontrar alternativas.
Em janeiro, um grupo de 42 países e 70 empresas pediu à ONU um tratado internacional para produção e reciclagem, porque regras distintas em cada mercado prejudicam a competitividade e oneram as companhias.
Em paralelo, multinacionais vêm tentando reduzir sua produção de embalagens de papelão com tecnologias que vão do reuso à reciclagem com parceiros, passando pelo uso de outros materiais.
José Fernando Machado, diretor comercial no Brasil da americana Graham Packaging, que fabrica embalagens em 13 países, diz que o redesenho das embalagens é hoje uma das principais inovações:
— Há tecnologias de fabricação onde se consegue, através de distribuição de material, garantir mais performance com menos material. Num dos clientes, no México, com o redesenho, reduzimos de 18g para 14g o potinho de iogurte. Quando se considera a produção média de 10 milhões de unidades por mês, é uma grande diferença.
John Blake, diretor sênior e analista da consultoria Gartner, cita como exemplo de reformulação o SodaStream, da Pepsi. Em vez de água gasosa em embalagens plásticas, adotou-se a venda de CO² em latas reutilizáveis para gaseificar em casa.
Na esteira de inovação, Alex Carreteiro, presidente da PepsiCo Brasil Alimentos, revela que a empresa avalia usar papel para garrafa e embalagens de alimentos à base de plantas (nos EUA, o saquinho comportável já é comercializado).
No Brasil, a empresa lançou o protótipo da carroceria de um caminhão feita com 750 embalagens de salgadinho, 360 garrafas PET e fibra de vidro convencional. O veículo está rodando em Contagem (MG), onde foi desenvolvido, para entregas nos centros urbanos. A ideia é escalonar na frota.
Já a Ambev reduziu em 70% o plástico de packs de Skol ao trocar o embrulho por uma alça. A cervejaria também aposta, em parceria com a startup growPack, numa tecnologia de embalagens com compostos orgânicos e compostáveis.
Também com uma startup, de biotecnologia, a L’Oréal global consegue gerar PET reciclado com qualidade equivalente à do plástico virgem. A companhia também investe em garrafas e tubos de papelão em seus produtos.
Nos EUA, a californiana Apeel desenvolveu uma proteção comestível para alimentos, à base de cascas de frutas e plantas. Na Europa, a Unilever lançou um modelo de refil, onde os clientes recarregam shampoo, condicionador, produto de limpeza e outros itens em seus potinhos.
Suelma Rosa, diretora de Sustentabilidade e Assuntos Corporativos da Unilever, conta que a empresa desenvolve a troca do plástico por celulose de origem reciclável para embalar o sabão Omo no Brasil e no mundo.
A Coca-Cola investiu mais de R$ 1,1 bilhão nos últimos cinco anos em linhas de retornáveis. Em 2020 lançou no Brasil a garrafa de água mineral feita 100% com PET reciclado.
Agora, investe num piloto de digitalização da troca de garrafas por meio de um aplicativo, diz a diretora de sustentabilidade da Coca-Cola América Latina, Andrea Mota.
O esforço vai ao encontro da conscientização dos consumidores. Um sinal disso: o iFood atingiu, nesta semana, mais de 100 milhões de pedidos dispensando itens plásticos, como talheres e canudos.
Pouco ainda é reciclado
Segundo Blake, da Gartner, as metas de redução e reciclagem propostas pelas empresas, em geral, são difíceis de serem cumpridas porque há uma enorme quantidade de embalagens que ainda não são reaproveitadas ou recicladas.
Diante desse entrave no ciclo do reaproveitamento do plástico, a Nestlé criou um projeto-piloto em Petrópolis e Três Rios, no interior do Rio.
Máquinas permitem que moradores troquem embalagens por pontos em um aplicativo, os quais depois poderão ser resgatados por produtos de marcas saudáveis do grupo.
Todo plástico é aceito, diz Bárbara Sapunar, diretora de Criação de Valor Compartilhado da Nestlé Brasil, mas embalagens da multinacional dão o dobro de pontos.
Paulo Teixeira, diretor superintendente da Abiplast, associação do setor, sintetiza que o uso racional do plástico é um problema coletivo:
— A maioria das cidades não tem um sistema de coleta seletiva. Quando tem, a população não está engajada ou não destina corretamente. Além disso, a tributação da resina virgem é menor que a da reciclada.
Via: www.umsoplaneta.globo.com