Pais, libertem seus filhos e os permitam sonhar!
Nesse dia dos pais, aproveitando uma experiência que tive essa semana, decidi compartilhar. Estava em um evento empresarial na terça feira, dia 08 de agosto de 2017 e um amigo nos solicitou que escrevêssemos em uma folha um sonho da nossa infância. Me exercitei por alguns minutos, em meio ao silêncio que pairava na sala e, por mais estranho que parecia, não consegui acessar a nenhum sonho que tive em minha infância. Minha reação comigo foi de muita decepção, já que fui o único da turma de aproximadamente 40 pessoas a deixar minha folha em branco, apenas com o meu nome.
Gostaria que meu pai estivesse vivo para que eu pudesse abraça-lo nesse dia dos pais. Infelizmente, me deixou em 2010. Seria uma enorme satisfação agradecê-lo por tudo que fez por mim. Por tantas noites que acordou por minha causa, por tantas manhãs que se levantou, por cada peça de roupa que comprou, pelo alimento colocado com abundância sobre a mesa. Pelas palavras e instruções, correções, carinho e afeto. Por cada marca das varas que ficavam em minhas costas quando eu não o obedecia! Apesar de nunca tê-lo ouvido dizer que me amava, tenho convicção de seu amor, que pude provar em suas ações para comigo. Meu pai já chegou a se levantar as 05h da manhã, horário de verão, escuro, com lanterna em mãos para buscar cavalo em extensa pastagem, para que as 06h o café e o cavalo estivessem preparados para eu ir para a escola. Eu já tinha meus 12 anos e ele poderia ter me tirado da cama as 05h e me fazer ter todo aquele trabalho, pois desde os 7 anos eu já sabia preparar um cavalo para montagem. Mas ele me amava muito e queria cumprir seu papel como um bom pai.
Voltando ao sonho de criança, por que nunca o tive? Meu pai me ofereceu o melhor que ele podia oferecer, dentro do que ele pensava que era certo. Ele não tinha noção de que criava um menino adestrado e sem direito de sonhar. A culpa não era dele, a culpa era do passado, passado, passado,… O que ele aprendeu na vida, replicou em minha educação. Seu pai deve ter feito o mesmo com ele. A escola que ele queria me dar era pelo menos uma 8ª série, talvez um 2°grau. Me dar uma formação básica para que eu pudesse tirar melhor o leite da vaca, vender melhor a arroba da vaca velha, manusear melhor a enxada, a foice, a cavadeira, o enxadão, o machado, etc. Como eu iria sonhar com algo que ele queria que eu sonhasse, se eu detestava fazer aquilo, além de a forma que ele fazia, ou seja, os processos eram muito arcaicos e pouco rentáveis, na minha visão. Com todo respeito às escolhas que ele tinha para mim, eu precisava fazer as minhas próprias escolhas. Minha infância, adolescência e juventude foi difícil e escassa quanto a sonhos. Fui proibido de sonhar!
Proibido, inclusive, de mascar uma goma de chiclete, de chutar mesmo que fosse uma pedrinha no terreiro. Chutar uma pedrinha o remetia ao futebol, tão condenado pela igreja que frequentávamos na época. Na verdade, eu não podia nem mesmo escolher ter amigos, pois esses poderiam me ensinar a fazer algo muito errado, como o futebol mesmo. Se ele me pegasse jogando futebol, as marcas ficavam nas costas como se fosse o mapa da linha do metrô de Paris ou de uma enorme telha de aranha. Famosa vara de guaxima. E como doía! Era proibido fazer o que a gente gostava e a igreja mais parecia qualquer outro caminho, menos o que levava ao céu, na concepção de uma criança, de um adolescente. Os tempos mudaram e, penso que hoje, não só ele, mas muitos outros pais com a mesma conduta, fariam diferente.
Mais um agradecimento ao meu pai, que em 1998, mesmo sendo tão difícil para ele, me permitiu escolher meu próprio caminho. Me permitiu ter o direito da escolha e apesar de mesmo muito tarde, abriu mão de me ter ao seu lado, reconhecendo que precisava me libertar e me permitir sonhar em liberdade.
Onde ele acertou, aprendi a ter caráter e, quem sou hoje, não o seria com maestria, sem seus ensinamentos! Talvez eu não seria tão livre, se ele não me tivesse prendido tanto. Talvez eu estaria enrolado a muitos sistemas, se não tivesse sofrido tanto com os sistemas na minha infância. Criei personalidade e me tornei ainda mais forte, pois lutei com garra em meio aos sistemas e alcancei a tão esperada liberdade de poder sonhar!
Com os erros do meu pai, aprendi a permitir que as minhas filhas sonhem, esperando que elas, quando crescer, não deixem a folha em branco.
Como é maravilhoso imitarmos o que observamos de bom no outro. Repliquemos as benevolências e descartemos o que foi ruim. Que sempre a próxima geração de pais seja melhor que a anterior.
Faça o seu melhor e ofereça aos seus filhos muito mais que seu pai lhe ofereceu.
Parabéns a todos os pais!
Marcos Alexandre de Paula
CEO MM / Embalagens B2B
(2) Comments
Gustavo
Poder conviver minimamente com você, é premio sem valor estimado.
Desejo que mais pessoas possam usufruir do tanto que tens a ensinar como pessoa antes de qualquer receita de sucesso, pois sua prosperidade é prova que por trás de um grande sucesso existe uma pessoa genial.
Abraços saudosos e parabéns por dar conteúdo para suas filhas.
Gustavo, seu amigo.
Cristina Gontijo
O mais importante é o que fazemos das nossas angústias, você soube como driblá-las com maestria, parabéns!
Comments are closed.